Não confie em quem te pede para ser criativo
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Quando fui contratado para trabalhar numa empresa em Portugal, me disseram: “queremos que você seja criativo! Você tem total liberdade para criar e agregar novas ideias a empresa!”. E foi o que eu fiz. Dali alguns meses, me mandaram embora. Mais tarde percebi o porquê: na verdade só queriam alguém para fazer o mesmo serviço do antigo designer (provavelmente demitido pelo mesmo motivo).
Ser criativo sem dúvida é um diferencial importante, e todos querem trabalhar com pessoas de pensamento inovador. Entretanto, poucos realmente sabem como lidar com a criatividade alheia. Ouvimos frequentemente que devemos ser criativos em nossas profissões e como isso é relevante para nossas carreiras e futuro profissional. Mas, apesar de alegarem isso, ficam com o pé atrás e não dão a liberdade necessária para a criatividade florescer.
Criatividade envolve fazer aquilo que ninguém espera que você faça.
Ainda não há espaço para ser verdadeiramente criativo. É preciso muito jogo de cintura para encontrar um meio termo entre seguir as regras da empresa e propor ideias inovadoras. Criatividade envolve fazer aquilo que ninguém espera que você faça, só que morrem de medo disso porque não sabem o que você irá fazer. Querem saber de antemão para darem o aval e, nessas condições, é impossível ser criativo.
Um ótimo exemplo disso é Steve Jobs, que foi mandado embora da própria empresa por ser demasiado criativo. Suas ideias mirabolantes e seu caráter imprevisível fazia com que seus colegas arrancassem os cabelos e, antes que ficassem carecas, o demitiram. Entretanto, a empresa não era a mesma sem ele e sua presença era indispensável, o que o trouxe de volta.
Steve sabia como as coisas funcionavam. Quando lidou com a parceria entre a Disney e a Pixar, não queria que as ideias da gigante contaminasse a menor. Assim, Jobs deu total autonomia para que Catmull e sua equipe fizessem o que achassem melhor para que a Pixar não fosse abafada. O resultado todos conhecem: as duas marcas ficaram ainda mais fortes, sem a necessidade de misturá-las.
A criatividade não está apenas na combinação de ideias, mas também na combinação de mentes e pessoas. Se as empresas continuarem olhando para seus funcionários como recursos descartáveis ao invés de pessoas de verdade, permaneceremos estagnados no “mesmo de sempre”, enquanto olhamos a inovação sumir no horizonte.
(Ilustração de capa: Christopher DeLorenzo)
