Porto, cidade criativa
A cidade do Porto, em Portugal, atrai todos os anos pessoas das mais diferentes nacionalidades. Suas ruas fervilham com as mais variadas culturas, linguas, artes, interesses e histórias. Mas será que pode ser considerada uma cidade criativa?
“É precisamente a atividade criadora do homem que faz dele um ser projetado para o futuro; um ser que contribui com a criação e que modifica seu presente.” — Vygotsky
A pertinência do estudo da criatividade está na sua crescente importância na atualidade. Ela nos oferece pontos de conexão entre diferentes áreas, tornando-se uma catapulta para ideias e para o conhecimento. “Outra razão”, afirma Kneller, “está na própria natureza esquiva do processo criador, que intriga o espirito indagador, permitindo-lhe mais do que a costumeira liberdade de especular”. Além disso, mesmo com diversos testes disponíveis para se medir a criatividade, compreender o seu nível não é uma tarefa fácil, pois a maioria dos testes são baseados, grande parte, na visão de criatividade do avaliador.
Entretanto, é possível ter uma melhor compreensão da criatividade através da perspectiva de suas dimensões, onde quatro aspectos orientam suas definições na atualidade: a pessoa criativa, tendo em conta seus valores, emoções, hábitos e comportamentos; o processo criativo, através da percepção, imaginação, motivação, aprendizado, comunicação e pensamento criativo; as influencias ambientais e culturais, que envolve a educação e a cultura; e o produto criativo, como ideias, descobertas, arte e teorias.
“A criatividade tem a ver com a observação; quando observamos alguma coisa, quando vemos se as coisas estão bem ou não, nós conseguimos, a partir dai, criar alguma coisa” — Aluno 6
Para entender a cidade do Porto como criativa, é preciso primeiro entender o ambiente favorável para a Criatividade. A adaptabilidade à cultura e ao ambiente colabora na forma com lidamos com os novos problemas que surgem neste novo contexto, e, consequentemente, na interação com a cidade como um todo. A interação entre diferentes culturas e nacionalidades tem forte influência no processo criativo. Sinek comenta que a cultura exprime um conjunto de crenças e valores, e lugares que refletem esse conjunto semelhante ao nosso é aonde vamos nos sentir melhor.
Já no caso da cidade do Porto, é possível percebê-la como uma cidade plural, uma mescla entre a tradição e o turístico, que pouco a pouco trouxe influências e costumes. Para Aires, “O Porto é (…) um porto onde chegam e de onde partem notícias”. É uma cidade viva.
A cidade é jovem e vibrante, apresentando um equilíbrio entre o antigo e o novo que contribui significativamente para a Criatividade. Isso acontece, pois, segundo Kneller, “o meio do criador proporciona-lhe diferentes métodos de realizar o trabalho colimado”. Ou seja, a fusão de diferentes pontos de vista que a cidade do Porto possibilita atua diretamente naquilo que é criado.
A explosão de cores, formas, natureza e urbano impulsiona a criatividade de seus visitantes por sua diversidade. Não só isso, outro ponto de destaque é a interação do mar com o rio, seja como fonte de inspiração, seja como mais um ambiente de interação entre as pessoas e a cidade. Para Eduardo Aires, criador da atual identidade visual do Porto, a marca Porto Ponto, a geografia da cidade é o que caracteriza sua criatividade:
O Porto tem a escala que nos permite uma relação de proximidade com o envolvimento, sem estranheza nem inquietação. Aqui sentimo-nos aconchegados, desenvolvemos um sentido de pertença, circulamos e movimentamo-nos sem grandes interferências. Criamos e percorremos agilmente trajectos, abarcamos o rio e o mar de um golpe, atravessamos toda a corda fluvial e marítima de modo expedito, fixamos comodamente o outro lado das praças e largos, conhecemos o carácter de cada jardim, o temperamento das ruas da baixa, a personalidade de cada café.
O papel do ambiente no ato e nos processos criativos é indiscutível. Ele opera diretamente naquilo que servirá de referencia para seu criador. A mistura, a conectividade, a interação e a extrapolação de conceitos, valores e métodos nos leva a perceber um novo mundo de possibilidades.
O Porto é uma cidade que consegue conciliar diferentes contrastes sem perder sua identidade. É uma cidade “mundialmente portuguesa”, pois acolhe o novo e seus visitantes, mas protege sua história e preserva suas tradições. Essa postura da cidade do Porto de abertura e conectividade é considerada por Johnson como sendo mais valiosa para a inovação do que ambientes puramente competitivos.
O Porto como cidade criativa proporciona um intercambio de ideias e oportunidades, seja por sua geografia diversificada, com rio, mar, natureza e metrópole; seja por sua veia cultural, com prédios e monumentos históricos, museus, parques, eventos e concertos musicais; ou ainda por suas ruas vibrantes que fervilham com rostos de todos os cantos do mundo. Tudo isso em um mesmo lugar.
“Every person have it’s own background, it’s own influences, so it’s very intersting to see how things vary from another. (…) The work that comes from someone is unique” — Aluno 2
O individuo que participa, seja ele espectador ou ator principal, descobre e usufrui da cidade, e acaba por contribuir com sua dinâmica diversidade. O Porto é das pessoas, para as pessoas. É uma cidade que acolhe e conecta; que abraça e cuida. No Porto há espaço para todos.
O artigo completo foi publicado no livro “Publi-cidade e comunicação visual urbana”, da Universidade do Minho. O artigo completo está disponível em: http://hdl.handle.net/1822/55071
Citação:
Zamana, F. (2018). “Porto, cidade criativa”. In: H. Pires & F. Mesquita (Eds.), Publi-cidade e comunicação visual urbana (pp.125–131). Braga: CECS.